poemas escritos no correr de minha vida

Wednesday, February 28, 2007



DESCAMINHOS

Andei por tantas estradas.

Vi gente tão bem arrumada.

E gente esfarrapada.

Vi sonhos de pequenos e grandes.

Eu vi olhos que pediam.

Mãos que ofereciam.

E outras que se escondiam.

Vi corações entristecidos.

E outros com uma música sempre a cantar.

Ó, eu vi barracos com flores dependuradas!

E vi mansões geladas.

A pobreza e a riqueza eu pude ver.

Vi crianças com pensamentos de adultos.

E adultos com pensamentos tão infantis.

Fui tão triste em tantos momentos.

Em outros, como eu fui feliz!

O que posso dizer dos caminhos?

E dos descaminhos?



SONIA MARIA DELSIN



DE SONHOS

De que é feito este tempo?

De sonhos.

Do sonhar.

E o que é sonhar?

É deixar-se levar nas asas do vento.

Soltar o pensamento.

Relaxar.

Se deixar carregar sem relutar.

Sem desejar se segurar.

É soltar.

E caminhar para um outro lugar.

Aprendi a voar

quando umas asas consegui encontrar.

Dentro de mim elas existiam.

Pediam ao meu ser para as experimentar.

Voei e como foi bom!

Estive nos lugares que as pessoas nem ousam chegar.

Depois?

O caminho da volta é fácil de encontrar.

O importante é saber se deixar levar...

Nas asas encantadas montar...

Deixar a alma se soltar...

planar...

levitar...

viajar...


SONIA MARIA DELSIN



PASSOS

Eu caminhava.

Estradas planas.

Avistava ao longe as montanhas.

Não eram reais.

Nem os picos cobertos de neve.

Era uma fantasia.

Feliz utopia!

Mas elas traziam ao meu coração alegria.

Meus passos eu ouvia.

Passos...

Cheguei numa encruzilhada.

Olhei de um lado. De outro.

Tanto verde. Tanta luz!

Pensei.

Estradas...

Tantas. Tantos caminhos.

Do que é feito este nosso tempo aqui?

Um pouco de sonho, de realidade.

Se não fossem as ilusões teria de me afastar do planeta.

Teria que ir embora daqui.


SONIA MARIA DELSIN




MÁGOA

Devíamos enfaixar o coração.

Fazer dele uma múmia.

Deixá-lo guardado.

Num sarcófago muito bem acabado.

Num canto intocado.

Devíamos deixá-lo a esperar

até toda mágoa passar.

Esperando a dor se dissolver.

Ele nem devia bater.

Devíamos fazer como os ursos.

Invernar...

Esperar toda a dor passar.

Nosso ser anestesiar.


SONIA MARIA DELSIN



POETA MENINO

Ele ficou aqui,

em meu coração!

Foi um pouco do vento.

Foi a flor que desabrochou

à beira do abismo.

Foi a lua refletida no lago.

Foi a garça a voar.

A gaivota...

Ah! Ele foi o mar.

Os rochedos...

a onda

a se arrebentar.

Vivia a viajar.

Tinha umas alvas asas.

Não as escondia...

Sorria.

Era doce, era ingênuo.

Era um menino.

Um seixo a rolar.

De um prédio de sonhos,

despencava-se do último andar.

Nestas horas estalava uns olhos!

Me falava de estrelas e gatos,

também da beleza das flores.

A melancolia

seu rosto tantas vezes cobria.

O sorriso à sua face tantas vezes trazer

eu conseguia.

Não gostava de ver a tristeza seus olhos nublar.

A sua poesia me carregava para outro lugar.

A amizade que me ligava ao poeta menino mora

num tempo que o

mundo não consegue alcançar.


SONIA MARIA DELSIN



VOCÊ NEM SABE

Você não sabe.

Nem imagina

O quanto me machuca

Não sabe que as palavras duras

Cortam minh’alma lentamente.

Penetram em meu coração e ficam lá fazendo eco.

Às vezes as feridas sangram.

Eu perdôo.

Quase as esqueço e elas adormecem.

Novamente elas vertem sangue quando você volta a me ferir.

Então as feridas doem.

Formam um todo massacrante e eu nem sei que direção seguir

Para fugir da mágoa que você me causa.


SONIA MARIA DELSIN



SETE VÉUS


O passado guarda

um mundo.

Um mundo trancado.

Guardado, imaculado.

Sete chaves.

Sete véus.

Céus!

Morro de ciúmes.

Queria esquecer o que

vivemos.

Sorrir pelo que temos.

O nosso hoje...

Mas como, se fecho os olhos

e o vejo?

Você menino.

Você rapaz.

Você na guerra.

Você na paz.

SONIA MARIA DELSIN




ETERNO

Que digo dos grãos...

Dos grãos de areia.

Escapam por entre os dedos.

Escorrem.

O tempo os leva.

Os lava.

Arrastam-se...

Agrupam-se formando nova rocha.

Esfarelam...

Mais tarde nova rocha.

Novamente de transformá-los em grãos o tempo se

encarrega.


SONIA MARIA DELSIN



NÃO CUBRA


Não cubra de ervas daninhas

meu coração.

Não sufoque a rosa vermelha

que ele ostenta.

Ele tenta...

Ó como ele tenta

ser feliz!

Não cubra de negro meus sonhos.

Há um menino correndo.

Ele brinca.

Não lhe tire o encanto.

Não mate meu canto.


SONIA MARIA DELSIN


CIDADE ANTIGA

Da janela posso observar.

Cada luz a se apagar.

Na escuridão outra cidade eu vejo nascer.

Ela se ergue do nada.

Já não estou na janela.

Agora estou na calçada.

Faço parte de outro tempo.

O vento...

Ah! Ele vem trazendo.

Trazendo seu sorriso.

Você que me chega menino.

Não preciso perguntar seu nome.

Sei quem é.

Sei quem sou.

Posso sentir o beijo

que os dois seres trocam.

De mãos agarradas eles crescem

diante de meus olhos atônitos.

Posso vê-los a se abraçar.

A dançar.

A se falar.

Com que carinho se tratam.

Mas há mais...

No ar há um clima de paixão.

Acelera-me o coração.

Agora é um adeus entre os dois.

Lágrimas...

A partida é dolorida.

Tanto amor e dor.

Anoitece e na bruma a cidade antiga

desaparece.

A do agora reaparece.

Me sinto voar.

Engraçado!

Montada numa nuvem posso tudo observar.

Digo não ao tempo atual.

Do alto posso ver tudo na sua forma

mais natural.

Abro as asas. O infinito está a me chamar...

A cidade antiga eu sei que mudou-se.

Está em outro lugar...

Porém... quase a posso alcançar.


SONIA MARIA DELSIN



A UM POETA QUE SE AFASTA...


Você não existe.

É um ser de sonho.

É só uma ilusão.

Uma visão...

Mas quando se derrama sobre as páginas...

Se liquefaz em tintas.

Transforma as emoções e as sensações

em palavras.

Então você existe

e em ser poeta

insiste.


SONIA MARIA DELSIN



MEUS BRAÇOS

Eles carregaram flores.

Um buquê...

Estão vazios.

Minhas mãos foram

distribuindo.

Cada sonho morto cobrindo.

Com flores e lágrimas...

O perfume...

o vento levou.

As flores que o tempo murchou.

O sol já secou.

Meus braços vazios

ainda esperam.

Confiam na semente.

No milagre do grão.

Vou aguardar e

vou colhê-las na primavera.

A fragrância vai invadir meu ser.

Porque sem sonhar eu me recuso a viver.


SONIA MARIA DELSIN




SE FECHO OS OLHOS...

Se fecho os meus olhos posso ver o seu sorriso menino.

Brincando de abrir todas as minhas portas.

Se fecho os olhos posso vê-lo

a minha frente trazendo a rosa mais bela.

Amarela!

Posso ver suas mãos me buscando, seus braços.

Seus passos vindo ao meu encontro.

Posso ver os beijos que trocamos. Tantos.

Tantos encontros.

Posso ver a estrada que caminhamos.

A lua que admiramos.

E nossos corpos enlaçados.

Enamorados.

Nós dois grudados.

Posso ver os olhares que trocamos.

As juras que nossos olhos proclamaram.

Nossos momentos felizes...

quando voamos juntos pelo espaço afora.

Quando mandamos qualquer dúvida embora.

E abraçamos uma causa.

Quando fizemos pausa...

Quando atravessamos pontes...

e os desertos...

Os oásis que encontramos em nossas buscas.

Que longo caminhar!

Quantos trechos difíceis de trilhar.

Meus olhos me trazem o caminho percorrido.

A dor não mora no fato de ter sofrido.

Ela mora num sonho esquecido.

Num sonho que não pode ter morrido.

SONIA MARIA DELSIN





VOCÊ DIZ


Você diz que foram meus olhos.

Eu digo que foi mais que isso.

Você insiste.

Eu digo que o conquistei

com meu riso.

Com meu jeito menina.

E meu jeito mulher.

Mas foi mais ainda...

Foi minha alma que o chamou para mim.

Eu fui lhe buscando.

Chamando...

Um dia nos descobrimos.

A atração aconteceu.

O amor nasceu.

Um buscava e desejava o outro.

E a vida disse sim.

Disse que permitia.

Que podia.

Que assim seria.

SONIA MARIA DELSIN



A PRINCESA DOS DESEJOS


Ela é uma princesa.

Uma fada.

É uma menina encantada.

Menina, sempre menina.

Vive a sonhar.

Vive a desejar e voar.

Sonha com campos floridos.

Com amores perdidos.

Com laços de fita.

Se tem a vida dorida?

Que importa?

Tem um sorriso que espanta uma lágrima.

Se num instante chora.

No outro a dor já foi embora.

E o tempo colabora.

O tempo trás o passado. Varre o hoje se ele dói.

Coloca o futuro na palma de sua mão.

A princesa vive a sentir o pulsar do coração.

E descobre a cada instante que a vida é bela.

Que tudo cabe dentro dela.


SONIA MARIA DELSIN



SAUDADE

Observo sua fotografia e

a saudade me carrega

para outro lugar.

Outro tempo.

Um tempo fora do tempo.

Um lugar que não caiu no esquecimento.

Que está vivo de alguma forma.

Uma saudade que não pertence ao agora.

Mas a um passado distante.

Seus olhos na fotografia me recordam

coisas adormecidas

de outras eras...

Acaricio-a com o meu olhar de hoje

e me pergunto

o que foi feito

do olhar antigo...

Descanso meus olhos ainda

um pouco

e busco uma razão

para esta impressão

que estou sentindo

de conhecê-lo...

Sinto-me atraída pelo retrato.

Mas melhor afastá-lo de meus olhos,

adormecer de novo

as sensações...

Nem tentar entender o porquê

desta saudade...

SONIA MARIA DELSIN